Na quinta-feira, na aula de Português, fizemos uma “viagem” à descoberta da biblioteca da nossa escola. Sentámo-nos à volta de uma instalação e começámos a ouvir música através de um carrossel.
Fechámos os olhos e, com a magia da imaginação, subimos ao reino da fantasia: fantoches, coelhos, gatos pretos, peixes, dragões, bruxas, fadas, coroas, reis, rainhas, princesas… Descobrimos chaves que abrem baús onde dormem as nossas histórias. E escadas mágicas que nos levam ao reino dos sonhos. E malas que nos transportam em sonhos dentro delas.
Subitamente, dentro de um baú, nasceu uma “História de animais e de medo”, a história de uma lagartixa verde, de olhos grandes e vermelhos, que ganhou vida pela voz da professora Ângela.
Era uma vez, há muito, muito tempo, um bosque com muitas árvores e animais. No meio de três árvores muito grandes, um amontoado de pedras brancas brilhava e em cima da pedra mais redonda estava um ovo.
– Crack! Crack!
Por entre os pedacitos de casca partida, saiu um bicho pequenino, mas com uma cabeça grande, corpo esguio, pele viscosa, quatro patinhas, olhos enormes, vermelhos, muito vermelhos. Com um ar muito assustado, perguntou para o espaço:
– Quem sou eu?
E o eco das suas palavras espalhou-se por todo o bosque. Até que passou uma linda borboleta, com um ar muito empertigado, que lhe respondeu:
– Não faço ideia, nunca vi um bicho tão feio. Eu sou uma borboleta linda e vistosa. Não sei quem és, só sei que não és uma borboleta.
E o bichinho ficou triste enquanto via a borboleta afastar-se pelo bosque. Voltou a perguntar “Quem sou eu?” e, desta vez, um gafanhoto saltarilho aproximou-se e disse-lhe, com ar trapalhão:
– Não faço ideia. Só sei que és feio, muito feio e não és um gafanhoto.
Cada vez mais triste, o bichinho sabia duas coisas: não era uma borboleta nem um gafanhoto. De repente, uma joaninha, que tinha tanto de bonita como de vaidosa, apareceu ao pé dele e ele perguntou-lhe, com ar amargurado:
– Sabes-me dizer quem sou eu?
– Ai que horror! Não faço ideia. Nunca vi um bicho tão feio! Tu és um monstro… Tu és tão feio, tão horrível… Tu só podes ser um monstro!
Sem se importar com os sentimentos do pequeno bichinho, voou pelo bosque fora a gritar:
– Tu és um monstro, tu és um monstro, tu és um MMMMONSTROOOO…
O bichinho verde começou a sentir raiva, ódio, raiva misturada com tristeza, tristeza misturada com ódio. Tristeza, raiva, ódio. E começou a sentir o seu corpo a crescer, a esticar, a inchar, a ficar enorme e a transformar-se num bicho grande, grande e feio, num verdadeiro monstro. Agora a sua voz era grossa e assustadora.
– Eu sou um MONSTRO! – gritava. E, por onde passava, o monstro destruía tudo o que encontrava à sua frente. Destruiu casas, aldeias, vilas e cidades, até que chegou a uma praia quase deserta, onde encontrou uma menina a construir um castelo na areia. A menina estava tão entretida com a sua construção que nem reparou no barulho que o monstro fazia à medida que se ia aproximando dela.
– Eu sou um monstro! – gritou para a menina.
Mas a menina não lhe deu importância. Continuou, muito concentrada, a construir o seu castelo.
– Eu sou um monstro! Eu sou um monstro muito mau! – continuava a gritar o bicho.
– Está bem – disse a menina calmamente.
– Olha que eu sou um monstro e vou fazer-te muito mal! – insistiu com uma voz menos grossa.
– Já que és grande e forte – disse a menina – vai ali junto das palmeiras e traz-me folhas secas para fazer bandeiras para eu colocar no meu castelo. Já agora traz-me também umas conchas bonitas para eu fazer os parapeitos das janelas do castelo.
E o monstro foi buscar o que a menina lhe pediu, enquanto gritava:
– Eu sou um MONSTRO, eu sou um Monstro, eu sou um monstro…
Quando o monstro regressou, deu à menina as folhas e as conchas e ela começou a enfeitar o castelo, que ficou muito bonito, e nesse momento aquele monstro diminuiu de tamanho.
– Olha, podes ir buscar umas pedrinhas para eu fazer a entrada do castelo? – pediu a menina.
E o monstro lá foi enquanto continuava a gritar que era um monstro.
O castelo ia ficando cada vez mais bonito. Bonito mesmo! E o monstro cada vez mais pequeno. Agora era um bicho pequeno esverdeado.
Então, pela primeira vez, a menina olhou diretamente para ele e exclamou:
– Olha uma lagartixa tão bonita, tão fofa, com uns olhos vermelhos!
O bicho nem queria acreditar. Finalmente sabia quem era.
– Eu sou uma lagartixa! Eu sou uma lagartixxxxxxxa! – gritou a lagartixa de alegria.
A menina e a lagartixa brincaram juntas durante o resto do verão e a menina convidou a lagartixa para morar no castelo. Quando o verão acabou, há quem tenha visto a lagartixa a esconder-se nas pedras do castelo.
A menina voltou para a escola. Um dia, na aula, falaram da importância de se ter um amigo e a menina desenhou uma lagartixa verde com uns grandes olhos vermelhos.
5º A
Esta instalação inspirou-nos e escrevemos dois poemas.
Uma nova paixão
Quando vi a instalação
trouxe-me memórias,
fantasias de carnaval
e grandes histórias.
As histórias que li
tinham muita alegria,
arte, animação,
fantasia.
O mistério dos livros
era secreto.
Despertou-nos imaginação
com magia e paixão.
5ºB
Viagem pela fantasia
Segredos guardados
libertados pela fantasia
de uma chave mágica
guardados no baú da imaginação.
Uma longa viagem
por caminhos
de páginas tecidas
com a pena da arte.
Uma longa viagem:
baús, fantoches, fadas,
máscaras, reis, rainhas,
princesas, bruxas,
chaves, castelos,
um carrossel,
coelhos, dragões e gatos pretos
guardados
no mundo da imaginação.
5ºB